segunda-feira, 21 de outubro de 2013

CARTA 1 (Um nada observador)

Ei Amigo,

Engraçado, muito do que escreveu me fez pensar... Nesse meio tempo.
Meio / tempo...
Eu fiquei preocupado com algumas coisas... inclusive com um passado, com a opinião das pessoas e com algo que até hoje me massacra, o olhar do outro.
Preocupado com pai internado, gente precisando de ajuda e com minha vontade de invisibilidade. Termino sendo artista, ou suicida?
Acho melhor artista...mais até que sensato, mais até que coerente.
Mas ainda dentro de casa...
Mas ainda... vários "mas".
E acho que produzir tem me tirado a culpa. Aquela culpa do tempo vivido sem sentido. E parece que sentir hoje em dia é anormal, faz de pessoas comuns antenas do mundo.

Daquilo que dói do meu passado
                                                 

                                   parte




                                                        ainda




                                                                               vive...










Sonhos interrompidos sempre são chagas abertas,
desejos sem alcance,

fantasia tímida a percorrer os platôs de corte e acidez,
             os platôs de degeneração,
                       os platôs de competição,
         
                                    de comparação e de castração.

Platôs que nada ajudam a criação, muito menos a identidade.
Decodificá-los serviu de sutura pra muita coisa, mas ainda sim.









Um tempo parou.








Uma mão levantou pra tocar a nota,







só que







não desceu mais.









Soou feio aos ouvidos dos outros... e ainda soa.


Feio.


Já pensou como o silêncio as vezes ofende e como o feio é necessário ao belo? Sem ele o belo não existiria, sem a loucura a norma não existiria.
Nem homossexualidade nem a heterossexualidade vivem uma sem a outra, não existiriam. Sem a mulher, a amante não existiria. Dessa última ainda se pode escolher qual delas seria a bela, os papéis oscilam tanto hoje em dia, já não exemplificam nada. Mas pra todo belo há de ter um feio.


O que resta, arte?

Onde resta estar pra deslocar um sentido que arrebata o outro na expectação do que se diz, do que se toca?
Isso tudo diz da moral?
É permitido por ela?
E onde a ditacuja circula, na obediência dos valores impostos?

Não, isso também não ajuda. Não ajuda a identidade nem a criação. Indentidade é ferramenta que temos pra pertencer em sociedade, naquele grupo que admiramos.

Mas quais são as regras do jogo? =/
Elas zelam pela sobrevivência subjetiva?
E eles, pela sua individualidade?

 Você sabe que caminhar sozinho as vezes é a via da verdade. Amar sob o olhar do outro também o é. 

Ainda resta um meio tempo.
Em mim.
Que dialoga com um tanto de coisas que so daqui uns anos vou poder dizer, ou daqui a pouco.
Ou ja tenho dito.
Mesmo que em palavras pretas, letras feias e frias, o nome desse lugar que busco desde os seis anos e que em um momento foi uma coisa, em outro foi outra e agora tem optado por não ser mais nada.
Me procupo com isso. Desisti do olhar do outro.
Do olhar automático e domesticado do outro.
Do olhar de resistência e de nomear do outro.

Desisti e nisso me falto.
Nisso sou invisível.

E no invisível não há belo nem feio.

No invisível tudo há de além...

e nada além de um nada observador.